quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O TREM

Minha vó me ligou assustada!
Estava passando um trem por nossa cidade!
Queria saber: "vamos voltar a ter trem?"
Disse eu: "Não sei Vó!"

Abaixo um poema escrito por meu companheiro de trabalho: João Passarinho.

O TREM DA SAUDADE

O trem apitou na curva
Que até fez me arrepiar
Pois fazia tanto tempo
Que eu não via o trem passar
E quando vi o comboio Isto me fez chorar.

Foi um apito triste 
Não transmitia alegria 
Mas será que aquele trem  
Já sabia o que eu sentia? 
Que uma dor de saudades 
O meu coração sofria?

Eu corri até a estação  
Para ver o trem parar 
Mas isto não aconteceu 
Eu só vi o trem passar 
E pra aumentar meu sofrimento 
Não parava de apitar.

Seguiu o tem apitando 
Ecoando no horizonte 
Eu parado, só olhando 
O tem se esconder nos montes 
Meus olhos cheios de lágrimas 
Não se desviaram um instante.

Ele é o trem da saudade
Que levou o meu amor 
Para distante daqui 
Só para me matar de dor 
Agora volta sozinho 
Este trem apitador.

Eu sou uma prostituta, não faço por amor.

Todo mundo diz que nosso mercado está prostituído. Eu penso diferente, acho que nosso mercado é uma adolescente procurando o príncipe encantado.

Aqui na agência cobramos para trabalhar. É óbvio? Nem tanto. Ainda existe cliente que exclama: o quê!? eu tenho que pagar para vocês desenvolverem um plano de guerrilha para o meu briefing?

Sim, nós cobramos para trabalhar. Da mesma forma que o costureiro que fez a cortina da sua casa cobrou um sinal, sem você saber se ela ficaria bonita ou não. Da mesma forma que seu advogado cobrou ganhando ou perdendo a causa. Da mesma forma que você cobra do seu empregador (e você cobra até sem trabalhar nos seus merecidos 30 dias de férias). Da mesma forma que uma prostituta cobra antes de tirar a roupa.

Todos estes profissionais são prestadores de serviço e cobram para trabalhar. E por venderem algo intangível, a sua expertise, existe o risco de dar certo ou errado. O risco de você gostar ou não do resultado. O risco de ser bom pra você ou de você brochar.  Para diminuir o risco, o contratante avalia as credenciais do fornecedor. Avalia se os serviços semelhantes que o fornecedor já fez estão adequados às suas expectativas. Não tem jeito, estamos falando de serviço e não de produto de prateleira com etiqueta de preço.

Com a Espalhe, eu sou uma prostituta com 5 anos de esquina tentando encantar e surpreender os clientes. E no meu ponto todo dia param uns pós-adolescentes, com pinta de gerente de produto jr ou atendimento de agência de propaganda, que abrem o vidro e jogam uma conversinha de que estão apaixonados, que querem me levar para casa e me tratar como uma rainha. Eu nem escuto o fim do papinho: dispenso dizendo que não beijo na boca e não faço por amor. Sou profissional e cobro pelo que faço.

Mas outro dia chegou um cliente antigo. Um tipo bonitão, forte, saudável e muito bem sucedido. Jogou a sua cantada, disse que estava apaixonado. E eu cai. Fui para a camauma concorrência sem cobrar. Fiz por amor.

E você acha que no dia seguinte o meu príncipe ligou para dar um feedback? Claro que não. Vestindo a carapuça de adolescente ingênua e apaixonada, eu pensei que ele tinha perdido o meu telefone ou estava muito ocupado. Mandei um email perguntando se estava tudo bem e se ele ainda me amava. E ele respondeu frio, superficial e distante:

“Analisamos hoje as propostas apresentadas e optamos pelo projeto de outro fornecedor que estava mais adequado as nossas necessidades e objetivos. Agradeço pela apresentação e participação na concorrência. Abs,”

Nenhuma consideração com meu amor e dedicação a ele. Me sentindo suja e usada, eu volto pra minha esquina com a certeza que o amor não existe e que o bonitão vai continuar com o papai-mamãe de sempre _ seja no formato do estande enorme, bonito e vazio na feira, da propaganda super produzida que ninguém vai falar a respeito, do site lindo que tem que comprar post em blogs para ter alguma visita.

Se adolescentes apaixonadas não te satisfazem mais e você busca profissionais para realizar todas as suas fantasias, me ligue.

Bjs, GFortes - mas pode me chamar de Pamela - cabelos negros, 1,74 e 80 kg de pura travessura.



Retirado do Blog: http://www.blogdeguerrilha.com.br/


Ilustra bem o trabalho de um publicitário! 


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Você não vai?"

Ainda era manhã, por volta das 10h, quando sai de casa para pagar umas contas no centro da cidade. Era um sábado com festa na cidade. As pessoas anciosas para o "grande" show daquela noite.  Filas para comprar os valiosos ingressos. Eu porém não tinha vontade alguma de aproveitar da festa para me divertir.

Após pagar minhas contas, fui tomar um café no tradicional bar da esquina. Saindo de lá encontrei alguns amigos que haviam acabado de comprar seus ingressos para a festa, todos felizes e confiantes de uma noite "daquelas". Comentavam sobre as noites anteriores da festa e a espectativa naquela que poderia ser a melhor de todas. 

- Você vai? - perguntou um deles.

- Não - respondi.

- VOCÊ NÃO VAI? - perguntou surpreso um deles.

- Não - confirmei, com cara de "e daí?"

Eles não se conformaram. Apesar disso o papo continuou numa boa.

Depois fiquei a refletir: será que só eu não vou? o que tem de tão bom em um show do Latino? (isso mesmo, a grande estrela da noite), será que sou tão diferente assim?

Me tranquilizei quando recordei das músicas de sucesso do famoso cantor: "hoje é festa lá no meu apê"; "a disgramada da catchaça"; "Renata, ingrata"; "papo de jacaré"; isso sem contar em uma música sem "letra", onde só se esculta murmurios e gemidos muito estranhos.

Não tenho preconceito algum contra esse tipo de música e estilo de cantor, apenas prefiro não apreciar. 

O que me intriga é que não vejo meus amigos em atividades diferentes como um show de música instrumental, ou em uma apresentação de teatro. Fico preocupado. Como será a formação e bagagem cultural que eles pensam em ter para seu crescimento pessoal e profissional (que clichê né? mas é sério!).

Pra encerrar o dia acabei tomando um suco (de laranja com acerola)  acompanhado de minha namorada e um casal de amigos (que também não foram, pelo menos não estou só) em um café da avenida principal. Enquanto isso na grande festa... "hoje é festa lá no meu apê"!